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31 maio 2010

Entrevista com Jorge Amanajás (PSDB), pré-candidato ao governo do AP.

Foto:Jaiana Giarola
Dep. Jorge Amanajás (PSDB).

Principais trechos da entrevista do deputado Jorge Amanajás ao programa “Consciência Cidadã”, na Rádio Comunitária Novo Tempo FM 105,9:

Mauricio Medeiros- Deputado Jorge Amanajás, nós temos lido e escutado na imprensa que a sua pré- candidatura ao governo do estado enfrenta dificuldades. A sua pré- candidatura já é dada como certa ou depende, ainda, de alguma articulação política?

Jorge Amanajás – Não depende de mais nada. A candidatura é certa e agora só depende, inicialmente, da vontade de Deus e posteriormente da vontade do povo. O Diretório Estadual já decidiu lançar candidatura própria e a Executiva Nacional já deu o aval. A partir desse aval, do partido, nós já estamos construindo as alianças. Já temos alianças com 11 partidos que, juntamente com o PSDB, nos dão as condições eleitorais para disputar as eleições. A partir daí, a construção da viabilidade de uma candidatura. Essa construção vem sendo feita a muitas mãos, com a participação de muitas pessoas, que sonham com um futuro melhor para o Amapá. Então, o PSDB já está decidido e neste sábado, 29, estaremos lançando a nossa pré-candidatura ao governo do estado com a participação não só dos partidos aliados, mas principalmente com algumas lideranças nacionais que vem ratificar essa candidatura própria, do PSDB, ao executivo estadual.

Carlos Carmezim – Deputado Jorge, Como se encontra a sua pré-candidatura com relação à preparação de um plano de governo? De enfrentamento das questões de saúde, educação, infra-estrutura, saneamento, agricultura e etc.?

Jorge Amanajás – Nós já estamos debatendo isso há quase um ano e meio, dentro do PSDB. O PSDB está organizado, não somente na questão estrutural, no espaço físico do partido, mas principalmente no seu trabalho de base, naquele trabalho que requer a participação da militância nos movimentos dentro do partido. Movimentos fortalecidos, como na área de educação, na área da saúde, no setor da juventude, no setor da maioridade, no setor de políticas para as mulheres, enfim, esses segmentos todos vêm ao longo de um ano e meio travando debates, discussões e nos últimos seis meses nós ampliamos o debate com os partidos aliados, os partidos que já estavam na base dessa aliança como o DEM, PPS, PSC, PT do B, PV, PHS, recentemente o PRTB, PRP, PRB, enfim, são 11 partidos em que ampliamos essa discussão e começamos, também, com o chamamento de alguns técnicos, de pessoas com conhecimento técnico e aprofundamento técnico para trabalhar essas questões que foram debatidas e a partir daí nós já consolidamos um primeiro formato do nosso plano de governo que, inclusive, a partir da semana que vem iniciaremos um ciclo de cinco debates que vão discutir os cinco eixos temáticos do nosso plano de governo. Claro que nós precisaríamos, aqui, de um longo tempo para explaná-lo, mas de antemão já digo que o nosso plano de governo tem uma prioridade que é resolver o problema da saúde do nosso estado, esse é o ponto de partida. Resolver o problema da saúde do estado requer, evidentemente, uma série de ações, passando pela questão da gestão, pela questão da tomada de decisão de fazer com que os recursos disponíveis para o orçamento da saúde, que chega perto de 13% do orçamento do estado, possam ser geridos de forma que o serviço chegue à ponta. O que é que o cidadão quer na saúde? Ele quer chegar e ter um hospital ou um posto de saúde equipado, ter médico, ter um bom atendimento e ter remédio. Se ele tiver isso, terá o básico, mas só se faz saúde de qualidade se nós tivermos a saúde preventiva, esse vai ser o grande fator que nós vamos lutar, no nosso plano de governo, a prevenção. Prevenir sai muito mais barato. Agora, claro, o tratamento curativo precisa ser feito de forma muito consistente, muito eficiente, mas o tratamento preventivo tem que vir na frente. A própria lei do SUS já prevê isso. A importância maior tem que ser a prevenção.

Hoje nós estamos numa crise financeira do estado, com uma dívida astronômica. O que é que precisa fazer para sair desse buraco? Primeiro precisa de um choque de gestão, esse choque de gestão precisa ser dado, precisamos ver quais são os ralos por onde os recursos estão escoando e sanar isso. Esse choque de gestão, na administração pública, já foi feito por grandes nomes do PSDB. Assim fez o Aécio Neves, em MG, assim fez o Geraldo Alckmin e agora o José Serra, em SP, assim fez Simão Jatene, no PA, o próprio Fernando Henrique, enfim, essa é uma máxima do PSDB, a seriedade com a coisa pública, com a gestão. A partir daí criar uma condição para o desenvolvimento em todos os setores.

Mauricio Medeiros – Com relação à segurança pública. Como o Senhor avalia e o que pensa, em termos de mudanças, com relação a esse setor, no nosso estado?

Jorge Amanajás – Segurança para nós é uma necessidade e ela precisa ser pensada de forma diferente de como é feito hoje. O que é que eu penso para a segurança, hoje? Claro, nós precisamos de polícia na rua, precisamos prender os bandidos que estão causando mal a sociedade, mas é bom que se diga, e eu tenho dado esse exemplo de forma muito clara. Quanto custa um detento, em média, para nós? Hum mil e setecentos reais, é o que custa um detento para nós, por mês, e nós estamos gastando isso para que? Para doutorá-lo mais, no banditismo. Porque se ele entra lá como um bandido, não muito experiente, ele sai de lá doutorado, com pós-graduação, em banditismo. Não tem recuperação nenhuma, são condições sub- humanas, aquilo ali é o inferno na terra. Esses detentos que estão lá, 90% são jovens de 18, 19, 20, 21 e 22 anos. Voltando 10 anos no tempo, esses detentos eram crianças de 8, 9, 10, 11 e 12 anos de idade. Essas crianças, com certeza, na sua maioria, não tiveram acesso a educação, não tiveram acesso a saúde, não tiveram uma estrutura familiar, não tiveram acesso a cultura, a lazer, ou seja, se nós tivéssemos gasto há 10 anos com educação, com cultura, com esporte, com lazer, com religião, com essas crianças, pelo menos 10% do que gastamos hoje com eles lá, ou seja, cento e setenta reais, com certeza a grande maioria deles não estariam lá no IAPEN em conseqüência de males que causaram a nossa sociedade. Então, segurança tem que ser pensada a médio e longo prazo, ela sai mais barata se pensarmos assim. O nosso problema é que nós somos muito imediatistas, e é por isso que nós temos uma proposta de criar uma revolução na educação do nosso estado. Nós não estamos inventando nada, isso já foi feito por Leonel Brizola, no RS e no RJ, os grandes educadores da nossa história defendem isso e eu não poderia fazer diferente. Eu quero fazer uma revolução na educação do nosso estado e essa revolução tem que atingir aqueles que mais precisam ser atendidos. Então, eu quero começar o nosso processo educacional com as nossas escolas de ensino integral, de ensino compartilhado, onde nós vamos ter não só o aluno em sala de aula, mas nós vamos ter o aluno com assistência médica, com assistência odontológica, com lazer, com esporte, com assistência espiritual, porque tem coisas que só Deus pode transformar o ser humano. Nós não podemos abrir mão disso. E eu quero construir esses grandes centros, na periferia, no meio dos mais necessitados, no meio das favelas, no meio das baixadas. É lá que eu quero as grandes estruturas para fazer a educação de qualidade, porque eu quero essas crianças com uma probabilidade de serem cidadãos honrados e decentes, diferente dos jovens que hoje se encontram no IAPEN. O Amapá precisa se desenvolver. E a minha bandeira é a bandeira do desenvolvimento.

Foto: Jaiana Giarola

Dep. Jorge, Carmezim e Mauricio.

Ouvinte (Julio Cezar) – Deputado Jorge Amanajás, o senhor falou de desenvolvimento e por essa razão eu lhe pergunto: O que falta para o Amapá se desenvolver no setor primário? E nesta quinta-feira entra em vigor a Lei Capiberibe. A Assembléia Legislativa está preparada para cumprir essa Lei?

Jorge Amanajás – Vou começar respondendo pela última pergunta. A Assembléia Legislativa a partir desta quinta-feira começa a colocar todas as receitas e despesas na internet, eu já vinha publicando isso. A própria Lei de Responsabilidade nos exigia, mas agora o acesso fica mais fácil pela internet e o cidadão não vai ter que ficar andando atrás de Diário Oficial para saber como estão as contas. Estamos prontos para cumprir, a risca, a Lei de Transparência. Com relação ao que eu penso sobre como desenvolver o setor primário. Primeiro, começando pela agricultura, nós temos, aproximadamente, doze mil famílias assentadas no estado. Infelizmente, esses assentamentos, foram todos feitos de forma equivocada, sem levar em consideração a nossa realidade. Estamos na Amazônia, estamos numa área de florestas, numa área de acesso difícil, estamos numa área em que, nós, somos diferentes do resto do Brasil e isso não foi levado em consideração quando fizeram esses assentamentos. Hoje, dessas doze mil famílias que foram assentadas, talvez só tenham permanecido, sete ou oito mil famílias que ainda continuam insistindo, apesar de todas as dificuldades. Precisamos resolver o problema dessas famílias assentadas e para resolvermos essa situação precisamos fazer parcerias, com o setor privado, no sentido de programarmos a agricultura de média e de larga escala. Temos exemplos disso, no nosso estado vizinho, no Pará. O que nós não podemos aceitar é que tenhamos quase quatrocentos mil hectares do melhor cerrado do Brasil, ocupado por uma única empresa que planta eucalipto e que a única agregação de valor que se tem é esse eucalipto ser moído em Santana, gerando apenas 500 empregos. E eles moem porque não cabe no navio em toras senão eles mandavam em toras. O certo é que esse nosso cerrado tem que ser usado para gerar empregos, para gerar riquezas, para nossa população. Para resolver o problema nós precisamos do Governo Federal, do Governo Estadual e principalmente da iniciativa privada. Nós podemos produzir o que quisermos no estado do Amapá, mas com uma responsabilidade maior, que é a questão ambiental. Não podemos abrir mão da responsabilidade ambiental. Eu sou totalmente contra a agricultura na floresta. Temos que usar 65% do nosso cerrado para produzirmos alimentos.

Mauricio Medeiros – O senhor falou em responsabilidade ambiental e eu tenho acompanhado alguns debates, em que o senhor participou, sobre meio ambiente e Amazônia. Como o senhor vê, hoje, essa realidade?

Jorge Amanajás – Nós somos reféns da opinião pública internacional, em relação às questões ambientais da Amazônia. Refém por quê? Estamos aqui na maior floresta tropical do mundo, estamos aqui com um potencial madeireiro quase que inesgotável, estamos aqui com um potencial hídrico e pesqueiro quase que inesgotável, estamos aqui com um potencial agrícola gigantesco e temos um povo vivendo quase na miséria. Não dá para aceitar isso. A legislação é muito cruel com relação a isso. Ela não diferencia o pequeno do grande, o rico do pobre. A legislação é uma só, mas nós temos que pensar que na Amazônia nós temos vinte e cinco milhões de brasileiros que precisam de casa, de escola, de hospital, de segurança, enfim, precisa do mínimo para serem considerados cidadãos. Por isso eu tenho andado pelo Brasil inteiro debatendo essa questão para mostrar o que é a Amazônia. Porque o resto do Brasil e do mundo, pensam que a Amazônia é formada só por rios e florestas. São imensos rios e infinitas florestas cheias de cobras, jacarés, tatus e etc. Esquecem que aqui tem vinte e cinco milhões de habitantes. Nós somos diferentes e precisamos ser tratados de forma diferente, porque nós prestamos um serviço para toda humanidade. Quando preservamos as nossas florestas estamos garantindo a chuva do centro-oeste do Brasil para produzir a soja, o milho e o arroz do centro-oeste. É mantendo as nossas florestas em pé que garantimos a chuva que cai nos laranjais da Califórnia, nos EUA. E quem nos paga por isso? Ninguém. Nós, sozinhos, estamos pagando esse preço. E tem alternativas para isso? Claro que tem. Nós não precisamos que ninguém nos mande dinheiro para fazer isso, até porque ninguém vai mandar. Nós queremos que tenhamos as condições necessárias para nos desenvolvermos. Podemos retirar a madeira de forma racional, o manejo florestal já se faz no mundo inteiro. E essa madeira tem que ser a matéria prima que vai gerar empregos aqui na nossa região. Estamos mandando essa madeira em toras para gerar emprego em outras regiões. Precisamos ter energia, pois nem isso tem. Vivemos numa região que é a maior produtora de energia limpa do mundo, através das nossas hidrelétricas. Não sei se vocês sabem, mas 70% da energia consumida no nosso estado são de termoelétricas, é queima de óleo diesel, é um milhão de litros por dia. Estamos produzindo energia suja e de péssima qualidade.

Mauricio Medeiros – O senhor é professor, por formação, e sempre atuou na área educacional. Como o senhor vê esse desvio de R$ 200 milhões da educação, que foi denunciado pelo deputado Moisés Souza e posteriormente confirmado pelo MPE?

Jorge Amanajás – Primeiro, dizer que eu me sinto realizado pela denuncia ter surgido dentro da Assembléia, isso mostra que a Assembléia assume a sua responsabilidade de fazer a denuncia quando deve ser feita. A Assembléia tem suas limitações constitucionais. Fizemos a denúncia, através do deputado Moisés Souza, que foi encaminhada ao Ministério Público e esse tipo de processo é muito demorado, chega a levar anos, basta agente lembrar-se daquelas operações como a operação “pororoca”, que agora é que se começa a ter algumas decisões, como a operação do “Mensalão”, de quatro ou cinco anos atrás, do Congresso Nacional, que eu acho que não foi julgado ninguém. Então, para agente ver que a nossa legislação, ela não dar condições de celeridade a avaliação disso. Agora, como professor eu me sinto profundamente triste e revoltado com uma situação dessas. Mesmo reconhecendo que a nossa educação avançou em alguns setores. Avançou na questão da infra-estrutura, isso é inegável, avançou com a nossa Universidade Estadual, isso também é inegável, mas ainda estamos longe da qualidade que nós temos a obrigação e o dever de garantir, na educação, para os nossos filhos, principalmente aqueles que mais precisam que são aqueles que não têm condições de pagar uma escola ou uma universidade particular. Eu, como professor, como educador, como militante da sala de aula, tenho isso como missão e foi Deus que me deu essa missão que irei exercer até o último dia da minha vida. O meu compromisso e a minha responsabilidade com a educação é ilimitado. Educação para mim é prioridade sempre, porque ela é a base que vai nos garantir uma segurança de qualidade, uma saúde de qualidade, vai nos garantir o desenvolvimento, enfim, ela é a base de tudo.

Foto:Jaiana Giarola

Dep. Jorge Amanajás visita biblioteca da Rádio Comunitária Novo Tempo.

Mauricio Medeiros – O estado do Amapá, segundo a FGV (Fundação Getúlio Vargas), tem um déficit habitacional de 31 mil casas. Como o senhor, se for eleito, pretende resolver essa situação?

Jorge Amanajás – Gostaria de fazer algumas correções. A FGV está sendo muito benevolente, porque ela só está considerando os que não têm casa e nós temos que considerar aqueles que moram em condições sub-humanas também. Se você pegar Santana vai constatar que metade da sua população mora em condições sub-humanas, em cima de palafitas, nas baixadas e aqui em Macapá não é diferente, Laranjal do Jari não é diferente, Oiapoque não é diferente, as nossas cidades estão assim e eu fico imaginando por que essa população tem que se submeter a morar nessas áreas inóspitas, inadequadas para o ser humano? Porque não foi dada alternativa para ela. Porque área tem, eu já fiz um levantamento entre Macapá e Santana, nós podemos criar cinco novos bairros. Esse projeto eu já tenho, nós estamos trabalhando, inclusive, com a ajuda do Presidente Sarney, eu já estive lá com ele e pedi a ajuda dele para que nós pudéssemos trazer um grande arquiteto, que tem experiência inclusive, que é o Jaime Lerner, lá do Paraná, que planejou Curitiba. Para que nós possamos ter o que eu chamo aqui de eco-bairro. Esses eco-bairros em que nós possamos integrar a questão ambiental. É uma área belíssima entre Macapá e Santana, com ressacas, com matas ciliares e áreas próprias para fazer habitação, são as áreas de cerrado que tem entre essas duas cidades. Nós podemos fazer esses cinco novos bairros, com terreno, com água, com energia, com praças, com posto de saúde, com escola, com transporte. Sem isso não adianta colocar, não adianta marcar uma área aqui e jogar o povo lá para fazer barraco, não resolve, piora ainda mais a situação. Essa questão habitacional tem que ser resolvida criando uma expansão planejada das nossas cidades, principalmente, de Macapá e Santana.

Carlos Carmezim – Deputado, o senhor ganhando as eleições vai administrar um estado totalmente falido, um caos. O senhor se sente preparado para essa missão?

Jorge Amanajás – Carmezim, eu sou filho de caboclo, meu pai é dali das ilhas Cavianas do Marajó e minha mãe é das ilhas do Bailique, eu já vim nascer em Macapá, ali na Praça da Conceição. E o caboclo tem uma característica muito forte, ele não tem medo das coisas, ele encara as dificuldades, até porque se não for assim ele não sobrevive. E eu herdei essas características dos meus pais. É por isso que eu quero participar dessas eleições, como candidato a governador, para encarar, esse desafio, e mostrar que nós podemos sim fazer as transformações e as revoluções necessárias. Eu não aceito de forma nenhuma, como alguém que nasceu aqui nesta terra, de ver uma terra tão rica, com tantos problemas, com tantas dificuldades e com o seu povo sofrendo tanto. Eu não aceito isso e é por não aceitar, essa situação, que eu não tenho medo e vou para luta. É dessa forma que eu encaro esse desafio.

27 maio 2010

PSB lança pré-candidatura de Camilo Capiberibe ao governo do Amapá

Por Eduardo Neves:

O Partido Socialista Brasileiro (PSB) aprovou resolução na manhã desta quinta-feira, 27, onde lança a pré-candidatura do deputado estadual Camilo Capiberibe (PSB-AP), ao governo do Amapá. A decisão foi tomada em reunião da executiva do partido que aconteceu na sede do PSB.

Na resolução, os membros da executiva do partido elegeram o PT como aliado preferencial do PSB que já tem composição eleitoral com o PMN, Partido da Mobilização Nacional, para a recomposição da Frente Popular de Oposição visando disputar as eleições gerais deste ano. Além de reiterar o convite para que o PSOL, Partido Socialismo e Liberdade continue compondo a Frente.

Na avaliação dos membros do partido, o pré-lançamento do nome do deputado estadual Camilo Capiberibe, possibilita ao eleitor amapaense entre as pré-candidaturas posta uma alternativa de escolha de oposição, uma vez que o governador Pedro Paulo (PP-AP), o presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Amanajás e o ex-deputado Lucas Barreto (PTB-AP), que concorrem ao governo do Estado, pertencem à chamada harmonia, grupo que tem como fiador o presidente do senado José Sarney (PMDB-AP).

Diante da decisão do PSB tomada nesta quinta-feira, na manhã desta sexta-feira, 28, acontece à reunião com o Grupo de Trabalho formado pelo Partido dos Trabalhadores que pretende formalizar a vaga de vice-governador, apoio ao nome do professor Marcos Roberto candidato ao senado, e oferecer coligação proporcional aos cargos de deputado federal e estadual aos partidos aliados.

Contato: Eduardo Neves – Assessor do deputado estadual Camilo Capiberibe (PSB-AP) – 8117 2883 / 9142 6546.

25 maio 2010

Nós, manipulados.

Por Frei Betto:
Oráculos da verdade
O filósofo alemão Emmanuel Kant não anda muito em moda. Sobretudo por ter adotado em suas obras uma linguagem hermética. Porém, num de seus brilhantes textos O que é o Iluminismo? sublinha um fenômeno que, na cultura televisual que hoje impera, se torna cada vez mais generalizado: as pessoas renunciam a pensar por si mesmas. Preferem se colocar sob proteção dos oráculos da verdade: a revista semanal, o telejornal, o patrão, o chefe, o pároco ou o pastor.
Esses, os guardiões da verdade que, bondosamente, velam para não nos permitir incorrer em equívocos. Graças a seus alertas sabemos que as mortes de terroristas nas prisões made in USA de Bagdá e Guantánamo são apenas acidentes de percurso comparadas à morte de um preso comum, disfarçado de político, num hospital de Cuba, em decorrência de prolongada greve de fome.
São eles que nos tornam palatáveis os bombardeios dos EUA no Iraque e no Afeganistão, dizimando aldeias com crianças e mulheres, e nos fazem encarar com horror a pretensão de o Irã fazer uso pacífico da energia nuclear, enquanto seu vizinho, Israel, ostenta a bomba atômica.
São eles que nos induzem a repudiar o MST em sua luta por reforma agrária, enquanto o latifúndio, em nome do agronegócio, invade a Amazônia, desmata a floresta e utiliza mão de obra escrava.
É isso que, na opinião de Kant, faz do público Hausvieh, gado doméstico, arrebanhamento, de modo que todos aceitem, resignadamente, permanecer confinados no curral, cientes do risco de caminhar sozinho.
Kant aponta uma lista de oráculos da verdade: o mau governante, o militar, o professor, o sacerdote etc. Todos clamam: Não pensem! Obedeçam! Paguem! Creiam! O filósofo francês Dany-Robert Dufour sugere incluir o publicitário que, hoje, ordena ao rebanho de consumidores: Não pensem! Gastem!
Tocqueville, autor de Da democracia na América (1840), opina em seu famoso livro que o tipo de despotismo que as nações democráticas deveriam temer é exatamente sua redução a um rebanho de animais tímidos e industriosos, livres da preocupação de pensar.
O velho Marx, que anda em moda por ter previsto as crises cíclicas do capitalismo, assinalou que elas decorreriam da superprodução, o que de fato ocorreu em 1929. Mas não foi o que vimos em 2008, cujos reflexos perduram. A crise atual não derivou da maximização da exploração do trabalhador, e sim da maximização da exploração dos consumidores. Consumo, logo existo, eis o princípio da lógica pós-moderna.
Para transformar o mundo num grande mercado, as técnicas do marketing contaram com a valiosa contribuição de Edward Bernays, duplo sobrinho estadunidense de Freud. Anna, irmã do criador da psicanálise e mãe de Bernays, era casada com o irmão de Martha, mulher de Freud. Os livros deste foram publicados pelo sobrinho nos EUA. Já em 1923, em Crystallizing Public Opinion, Bernays argumenta que governos e anunciantes são capazes de arregimentar a mente (do público) como os militares o fazem com o corpo.
Como gado, o consumidor busca sua segurança na identificação com o rebanho, capaz de homogeneizar seu comportamento, criando padrões universais de hábitos de consumo por meio de uma propaganda libidinal que nele imprime a sensação de ter o desejo correspondido pela mercadoria adquirida. E quanto mais cedo se inicia esse adestramento ao consumismo, tanto maior a maximização do lucro. O ideal é cada criança com um televisor no próprio quarto.
Para se atingir esse objetivo é preciso incrementar uma cultura do egoísmo como regra de vida. Não é por acaso que quase todas as peças publicitárias se baseiam na exacerbação de um dos sete pecados capitais. Todos eles, sem exceção, são tidos como virtudes nessa sociedade neoliberal corroída pelo afã consumista.
A inveja é estimulada no anúncio da família que possui um carro melhor que o do vizinho. A avareza é o mote das cadernetas de poupança. A cobiça inspira as peças publicitárias, do último modelo de telefone celular ao tênis de grife. O orgulho é sinal de sucesso dos executivos assegurado por planos de saúde eterna. A preguiça fica por conta das confortáveis sandálias que nos fazem relaxar ao sol.
A luxúria é marca registrada dos jovens esbeltos e das garotas esculturais que desfrutam vida saudável e feliz ao consumirem bebidas, cigarros, roupas e cosméticos. Enfim, a gula envenena a alimentação infantil na forma de chocolates, refrigerantes e biscoitos, induzindo a crer que sabores são prenúncios de amores.
Na sociedade neoliberal, a liberdade se restringe à variedade de escolhas consumistas; a democracia, em votar nos que dispõem de recursos milionários para bancar a campanha eleitoral; a virtude, em pensar primeiro em si mesmo e encarar o semelhante como concorrente. Essa, a verdade proclamada pelos oráculos do sistema.

23 maio 2010

Entrevista com Lucas Barreto.

  Lucas Barreto, pré-candidato ao governo do estado, nas eleições de 2010, fala em entrevista ao programa “Consciência Cidadã”, na Rádio Comunitária Novo Tempo FM 105,9, sobre eleições, coligações, planos e metas, além de fazer uma pequena analise da conjuntura política, econômica e social da realidade atual do estado do Amapá:

Mauricio Medeiros - Deputado Lucas Barreto, em entrevista, que o senhor deu a alguns meios de comunicação, o senhor se referiu a Zona Norte de Macapá como uma região pouco prestigiada pelo poder público. Como o senhor analisa esse fato?

Lucas Barreto - Nós estamos andando e visitando todos os lugares, conversando, discutindo com a população e ouvindo atentamente. E o que é público e notório, e todo mundo sabe, é que vocês aqui da Zona Norte sofreram e sofrem, hoje, muito mais, porque não houve uma preocupação, dos governos, em criar o espaço urbano em Macapá, não houve planejamento e o sofrimento começa pela dificuldade de acesso que a população tem de transpor aquela ponte (Sergio Arruda), que eu chamo de lombada. A cidade cresceu para a Zona Norte e não teve esse planejamento que deveria ter sido feito pelos governos que passaram. A situação de distribuição de água tratada é muito crítica, na Zona Norte, a ponto de a população passar três meses sem uma gota d’água nas torneiras e o que é pior é que, no final do mês, a conta vem para o cidadão pagar aquilo que ele não consumiu. Então eu vejo isso como um problema gravíssimo e temos que dar prioridade para que tenhamos isso, como uma política pública, a ser definida, no nosso plano de metas para ser apresentada a população. A saúde nós não precisamos nem comentar porque a população sente na pele. Esse caso, da reportagem do “Fantástico”, das mortes dos bebês, na Maternidade Mãe Luzia, é impossível que nós não sintamos essa comoção e essa indignação onde várias crianças morram e agente não fique preocupado, não comente e critique isso. Só porque elas são de famílias pobres? Isso tem que mudar, isso com certeza vai mudar.

Carlos Carmezim - Os pré-candidatos estão aí postos. E a maioria deles parece-nos mais preocupados com as articulações políticas, com as coligações, com o melhor e maior bloco partidário e não temos escutado esses pré-candidatos, sobre seus planos de governo, o que eles pensam sobre a realidade em que se encontra o nosso estado e etc. O que o senhor pensa a esse respeito?

Lucas Barreto - Eu penso que plano de governo todos nós, pré-candidatos, vamos ter. Mas nós entendemos que 80% de um plano de governo é obrigação do estado, tem que ter. Educação, saúde, segurança, habitação, são obrigações do estado e tem os deveres compartilhados com a sociedade, com a família. Nós entendemos que essas articulações, dos candidatos, para fazerem os seus planos de governo, são corretas. E nós estamos fazendo isso. Mas os 20% da realização, desses planos de governo, é gestão, puramente gestão. É dar valor ao dinheiro público. Hoje um real do dinheiro público vale 0,30 centavos e às vezes numa empresa privada um real vale 1,30 porque, na empresa privada, há noções, responsáveis, de valores, o que perderam com relação ao dinheiro público. Hoje, no público, ninguém sabe diferenciar um real de um milhão. Então, isso é muito grave, é preocupante e nós estaremos apresentando, nosso plano, na hora certa. Por enquanto nós estamos andando, conversando com as pessoas, individualmente, coletivamente, ouvindo as angustias e as esperanças das pessoas e a partir daí é que vamos formular um plano de metas de políticas públicas, que se consolidem. Aqui tudo se inicia, mas não se termina. Mostre-me, nos últimos 20 anos, um emprego que foi gerado e que ficou consolidado, de uma política pública, que ficou garantido. Você poderia me dizer: – Há os concursos públicos! – E eu lhe respondo que isso é obrigação do estado e aconteceram para substituir os contratos administrativos e ainda tem-se uma economia, quando se faz concursos públicos. Sou a favor do concurso público, mas sou a favor de políticas públicas que gerem trabalho e renda. Fazer com que o estado possa receber e atrair investimentos de empreendedores, para que nós possamos aumentar a oferta de trabalho. Esse é o nosso maior objetivo.

Mauricio Medeiros - Recentemente nós entrevistamos o ex-deputado estadual Randolfe Rodrigues, do PSOL, e o questionamos da possibilidade de uma coligação entre o PSOL e o PTB, para essas eleições. Existe essa possibilidade?

Lucas Barreto - Com certeza. O deputado Randolfe sabe que ele tem o nosso respeito, pela sua história de vida. Eu e o presidente do meu partido, deputado Eduardo Seabra, temos o maior carinho. Acreditamos que o Randolfe tem potencial, que é uma liderança que precisa ser respeitada, que precisa ser testada nas urnas, para majoritária. O PTB não tem problema nenhum em coligar com o PSOL, estamos de braços abertos. O PSOL tem uma linha programática ideológica e eu até brinco, com Randolfe, dizendo: - Olha Randolfe, o PTB daqui é o PTB de Getulio Vargas, vamos caminhar juntos. - Mas independente de coligação, se o Randolfe for candidato, ele terá o nosso apoio. Não só meu, mas do partido, independente de coligação. Que fique bem claro isso.

Carlos Carmezim - Deputado Lucas, nessa mesma linha, eu lhe pergunto: O PTB está aberto a conversar com qualquer partido, com relação às eleições de 2010, aqui no Amapá?

Lucas Barreto - Hoje, penso eu, já afunilou bastante e nós já temos um grupo de partidos que avançou. Já temos pré-candidato à vice, definido, que é o Jaime Nunes, todo mundo sabe disso, do PSDC, temos o PTC do deputado Feijão e temos outros partidos que, às vezes até, agente nem fala que é para não nos tirarem essas possibilidades de conversarmos. Nós não temos sectarismo, o que não aceitamos são imposições pessoais, tipo: - Há você tem que brigar com esse, porque ele é meu inimigo. – Nós não temos inimigos. Nós temos respeito por todas as lideranças, nós temos respeito por todos os partidos, todos são instituições e todas as lideranças trabalharam muito para se consolidarem como tal. Portanto, qualquer liderança ou partido que queira conversar, nós estamos abertos. O que não vamos aceitar é o patrulhamento ideológico, nunca, jamais, e isso é uma determinação do nosso presidente Seabra, e nós iremos cumprir com ela. Com certeza.
Carlos Carmezim - O senhor foi candidato em 2008, a prefeito da capital, e de lá até hoje já se foram dois anos e durante esse período o senhor ficou, praticamente, fora da mídia. A que se deve, então, o senhor estar aparecendo em 1º lugar nas pesquisas que foram feitas?

Lucas Barreto - Em primeiro lugar, nós fazemos as pesquisas com o intuito de saber o que a população pensa, o que ela está querendo. Essas pesquisas mostram, também, que há uma intenção de votos, mas há um sentimento maior de mudança. As pesquisas que dizem que nós estamos na frente ou que outros estão na nossa frente, não nos preocupam porque para nós a melhor pesquisa é aquela que o cidadão faz no seu bairro, na sua comunidade, na sua família e é essa que nos mostram na frente, a pesquisa do povo. Na eleição passada saiu uma pesquisa que dizia que nós tínhamos 9% de intenção de votos, saiu 20 dias antes das eleições, tivemos 25,3% dos votos válidos. E estávamos sozinhos, partidariamente. Então, estar fora da mídia, não significa que a população esqueceu tudo o que nós falamos. Significa que nossa posição, na eleição passada, foi marcante e determinante para que nós estejamos ocupando essa 1ª colocação.

Mauricio Medeiros - O senhor já foi presidente da Assembléia Legislativa e já foi deputado por várias legislaturas, portanto, conhece bem a Assembléia Legislativa. Como o senhor avalia a administração do Jorge Amanajás, na Assembléia?

Lucas Barreto - Olha a Assembléia Legislativa é a casa do povo. Então eu entendo que quem tem que avaliar a atuação dos parlamentares, é o povo. Eu estou fora da AL, há quase quatro anos, e não tenho me preocupado com a situação que a AL se encontra ou não. Tenho amigos lá, que respeito, que gosto e penso que essa avaliação vai ser feita, agora, pela população, até mesmo porque são eleições gerais e cada deputado terá que mostrar o seu trabalho para que consiga a sua reeleição. Comentar a AL enquanto você vive a AL, 24 horas, como eu vivi, é uma situação. Mas eu tenho vivido mais são essas viagens, essas andanças pelo interior do estado, em cada localidade, discutindo problemas e aí, é uma opinião que não me sinto preparado para lhe dar hoje. O que nós, que estamos de fora, conseguimos enxergar é o que a população pensa, mais aí todo mundo sabe o que estou falando.

Carlos Carmezim - O estado do Amapá, hoje, vive uma situação caótica. O seu parque energético saturado, orçamento público comprometido por empréstimos, saúde sucateada, educação também, a CEA sendo federalizada, a CAESA quebrada. E aí eu lhe pergunto: Como fazer para reverter um quadro desses?

Lucas Barreto - A FIRJAN, na sua última pesquisa, concluiu que nós temos, hoje, no Amapá 38,9% da população abaixo da linha da pobreza, isso é muito grave. Nós temos aí a CEA com uma dívida muito grande, quase um bilhão e meio, ela já sofreu processo de caducidade, já não temos a concessão. A CAESA, segundo o sindicato dos seus funcionários, tem uma dívida de quase quatrocentos milhões de reais. Temos as dívidas consolidadas do estado que aí você ver o efeito cascata que estar acontecendo. As empresas não recebem e aí os funcionários, também, não recebem, os funcionários não compram no comercio, não pagam suas dívidas e isso vira uma bola de neve que vai piorando, e muito, a situação econômica do estado. Tem uma frase do padre Vieira, que dizia que “A omissão é um pecado que se faz, não fazendo”. Fui convidar uma pessoa, que é um empreendedor de sucesso, que é o Jaime Nunes, para que nós possamos formar essa dupla, quando a lei permitir, para sermos pré-candidatos ao governo do estado. Um com visão política e outro com visão de empreendedor para que nós possamos tentar resolver, se tivermos a oportunidade do povo do Amapá, essa situação. Com uma gestão firme, com um choque de gestão, com equilíbrio e muito amadurecimento político. Eu já fui testado numa administração pública, deu certo. Nós não estamos inventando uma candidatura, me preparei à vida toda para essa candidatura, o Jaime também se preparou a vida toda. Nós estamos andando muito, estudando muito, avaliando a situação do estado para que, se houver a concretização, nós estejamos preparados com os melhores técnicos que nós ti vermos para essa missão. Isso é o ponto principal, a preparação para enfrentarmos a situação caótica que o estado vive.

16 maio 2010

O jeito nordestino de ser

O nordestino é o cão chupando manga
Marcelo Torres*

Depois da guerra, depois das mortes, depois do massacre, ou seja, depois de tudo, veio o doutor Euclides e cunhou a célebre frase “O sertanejo é antes de tudo um forte”. Oxente, seu doutor, não precisava tanto, bastava dizer que o sertanejo, antes de mais nada, é o cão chupando manga.

Seu Euclides, embora fosse crânio dos crânios – até porque era sociólogo, escritor, jornalista, engenheiro e professor -, na verdade quis fazer foi uma mediazinha com o sertanejo, talvez querendo se desculpar por ter ficado do lado mais forte daquela guerra estúpida.

Então, seu doutor, antes de tudo, o sertanejo é o cão de calçolão, é o istopô do Judas, é um fio do cabrunco da moléstia, é o raio da silibrina da gota serena.

E aí, caro leitor, complicou? Não entendeu?

O seguinte é este: aos olhos e ouvidos de quem não conhece as falas, os modos e costumes nordestinos, tais expressões podem soar como os piores desmerecimentos, desqualificações e xingamentos, quando, na verdade, são os mais puros, sinceros e naturais elogios dados e recebidos em nossas plagas nordestinas.

Simplifiquemos num só exemplo, numa só expressão: “O cão chupando manga”. Essa frase, no seu sentido original, expressa um baita elogio. É como se dissesse “Fulano é o diabo fazendo isso”.

- Ariano Suassuna é um escritor maravilhoso, não é?

- Afff Maria, é o cão chupando manga!

Depois que saiu das fronteiras da região e passou a ser usada a grosso modo por falantes ou escribas não nordestinos e, portanto, não contextualizados, essa expressão acabou, às vezes, ganhando outra conotação, contrária ao sentido original. De elogio rasgado passou a ter um tom jocoso, negativo.

Às vezes, o não-nordestino é levado a achar que esse cão que “chupa manga” é o cachorro (canis familiaris). Então, como a cena de um cão chupar manga é um tanto quanto insólita e esquisita, a expressão “o cão chupando manga” acabou sendo usada (fora do Nordeste) para se referir a algo ou alguém esquisito, estranho, feio, bizarro, pavoroso.

Na origem da expressão, porém, esse cão que chupa manga não é um cachorro. Esse cão que chupa manga é o demo, o tinhoso, satanás, belzebu, o diabo. É que nordestino chama cão de cachorro. E chama o diabo de cão. Ou seja, cão é eufemismo para não dizer o nome do tinhoso.

Na fala coloquial, nós nordestinos não costumamos elogiar nada nem ninguém de forma direta, aberta, objetiva, certinha. Que nada! Nós elogiamos é de forma indireta, subjetiva, informal, escrachada, esculhambada, xingada – e tome-lhe nome de doença, praga, palavrões.

Em Salvador, é um baita elogio o cara ser chamado de putão, miseravão – é aquele que se dá bem, principalmente com as mulheres. Em Sergipe, “fio do cabrunco” é o cara que é bom em tudo. É por aí…

Quando se diz que a cantora Claudinha Leitte “é bonita cumaporra” se quer dizer que ela é linda demais. Quando se diz que “Ivete é o cão para cantar”, se quer dizer que ela é o diabo para cantar, canta muito bem. “Ela no palco é o cão”, ou seja, ela no palco é o diabo.

Uma piada que se conta na Bahia é que, certa vez, um sergipano foi conhecer a Igreja do Bonfim, levado por um baiano. Quando lá chegaram, ainda do lado de fora, o sergipano ficou admirado com aquela obra de arte sacra e falou pro baiano: “Eita igreja bonita da desgraça!”. Aí o baiano emendou: “Quer ver o cão, entre”.

A expressão “o cão chupando manga” é absoluta e nordestinamente igual a “o cão de calçolão” (a vogal “o” tem som aberto = calçólão). Lembrando que, no Nordeste, calçola é o que os nossos compatriotas do Centro-Sul chamam de calcinha.

Então, que me perdoe o doutor Euclides da Cunha, esteja ele onde estiver, mas o sertanejo não é, antes de tudo, um forte. O sertanejo, aqui amplificado para o nordestino, é antes de tudo e depois de tudo o cão de calçolão. Ou o cão chupando manga.

*Marcelo Torres, jornalista, baiano, mora em Brasília

15 maio 2010

CPI da Mineração = Pizza?

Dr. Genivaldo Marvulle

O Dr. Genivaldo Marvulle, advogado representante dos agricultores da região do Rio Vila Nova, Questionou, em entrevista ao comunicador comunitário e blogueiro, Mauricio Medeiros, a ação investigativa e a falta de respostas às denuncias que foram apresentadas a CPI da Mineração na Assembléia Legislativa. Segundo o Dr. Marvulle a CPI tem um prazo a ser cumprido e, inclusive, esse prazo já venceu uma vez e ele teme que as denuncias, dos seus clientes junto a CPI, caiam no vazio. O advogado que é especialista na área de Mineração, na área Ambiental e na área Florestal, disse que tem se esforçado ao Maximo na orientação de encaminhamentos da CPI na esperança de maior celeridade nas investigações e nos seus resultados, mas que a morosidade, da mesma, tem trazido desesperança entre os seus clientes.

O advogado já encaminhou alguns documentos, petições, denuncias, e requerimentos a órgãos como o IMAP, DNPM, Polícia Federal, Justiça Federal, Ministério Público Federal e ele lembra que é um assunto que envolve empresas de um poder econômico muito forte, e que por isso, ele sente que existe uma dificuldade das coisas caminharem mais rapidamente e conseqüentemente às famílias desses agricultores, muitos deles nascidos na região, estão sendo defenestradas, expulsas das suas terras e cerceados dos direitos constitucionais de propriedade, de posse, de ir e vir e etc.

“Apesar de serem cidadãos humildes e pobres, os agricultores, eles são acima de tudo irmãos “brasileiros” que de certa forma, com a conivência das instituições nacionais responsáveis por fiscalizarem a questão da exploração mineral, estão sendo injustiçados por empresas “estrangeiras” como a ANGLO GOLD, que é inglesa e tem 160 mil funcionários, no mundo todo, e que teve no exercício do ano passado um lucro líquido de cinco bilhões de dólares, tem a Eldorado GOLD, que é canadense e tem nove minas de ouro, no mundo, e mais essa mina de ferro, aqui, a outra mineradora que está sendo acusada é a Mineração Vila Nova, que é o segundo maior faturamento de arrecadação do estado, só perdendo para a ANCEL, então, nós estamos enfrentando gigantes, é a briga do Davi contra o Golias e o pior é que são “estrangeiros” explorando a nossa Amazônia em detrimento do sofrimento dos nossos irmãos, humildes brasileiros. Essa é uma questão de Segurança Nacional e nós estamos bobeando e o mundo precisa estar de olho aqui, pois eu não tenho dúvida da grande devastação ambiental que está acontecendo no estado do Amapá. Nós temos notícias de irregularidades nas licenças ambientais, de exploração e contrabando de madeiras nobres da Amazônia, de cerceamento a direitos constitucionais de brasileiros e etc. e isso é inadmissível.” Disse o Dr. Marvulle.

“Com relação a CPI da Mineração nós estamos vindo, todas as terças e quinta-feira, que é quando os deputados membros da CPI se reúnem em sessões ordinárias, e as sessões não estão acontecendo e não nos dão explicações nem informações nenhuma e nós que não somos funcionários públicos, como eles, que recebem seus contracheques todo final do mês, temos nossas dificuldades em conseqüência dessa falta de informação e comunicação, assim como, acredito eu, vocês da imprensa também devem sofrer com essa apatia da CPI da Mineração. E já que falei da imprensa gostaria de chamar a atenção para o silêncio da imprensa nessa questão, tão grave, que é a exploração mineral no estado do Amapá.” Reclamou o advogado.