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17 abril 2011

O sorriso da Carol planta jardins no pára-brisa do meu carro

Do blog da Alcinéa Cavalcante:

Por Deusa Ilário*

Enquanto espero para sair fico observando o jambeiro aqui do quintal de minha casa. Estou indo ao velório de uma pessoa amada (minha sobrinha-afilhada-filha) e que tem apenas 35 anos de idade, morta num desses tantos e violentos acidentes de transito.

Sentir a natureza ajuda a compreender a Vida. Estou olhando as folhas do jambeiro, elas caem com mansidão e se amontoam no chão, orvalhada pelas minhas lágrimas de tristeza e dor… Observei que só as folhas amarelas e maduras se desprendem dos galhos, não há no chão nenhuma folha verde. O que pensei: diante à morte, ficamos buscando mil e uma razões para justificá-la, até como forma de amenizar o sofrimento. Muita gente diz, “foi à vontade de Deus”, “Deus quis assim”… Mas, será que naturalmente, alguma folha verde Cai? Elas podem ser arrancadas, ou seja, sofrem uma ação externa a sua natureza. Eu olho para elas, estão bem pertinho de mim, ao alcance de minhas mãos! Se eu quiser arranco muitas.

Então, se somos também folhas, temos um caminho a percorrer entre o brotar e o amarelar-envelhecer da vida? Qualquer interrupção que possa acontecer nesse caminhar não é responsabilidade de Deus. Eu creio, que não. Quem culpar, então? Sempre é tempo de rever nossas ações, de cuidarmos de nossas vidas e de sermos cuidantes das vidas das outras pessoas e dos demais seres de Vida que habitam a mesma Grande Casa.

Que voltemos os nossos olhos para a beleza da vida que está ao nosso redor! Pra quê pressa? A pressa nos cega. Um carro nas mãos de pessoas apressadas pode se tornar uma arma e encher as ruas de sangue, deixar filhas-filhos sem mães-pais e mães-pais sem filhas e filhos. Sempre que entro no carro olho para o céu e o meu coração se enche de amor. E quem ama cuida. Hoje sou eu quem chora, mas quantas já choraram e quantas outras ainda podem chorar! Nossa história somos nós que escrevemos, vamos escrever uma história de amor com a nossa cidade?

A Vida pede cuidados. Cuidemos para que ela floresça! Deixemos que os outonos cheguem naturalmente, sem pressa! Em meio à poesia das primaveras!

*Deusa Ilário, professora e escritora, é tia, madrinha e mãe adotiva da jovem Carol que perdeu a vida bruscamente este semana num acidente de trânsito

*"Só depende de nós..."