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31 maio 2010

Entrevista com Jorge Amanajás (PSDB), pré-candidato ao governo do AP.

Foto:Jaiana Giarola
Dep. Jorge Amanajás (PSDB).

Principais trechos da entrevista do deputado Jorge Amanajás ao programa “Consciência Cidadã”, na Rádio Comunitária Novo Tempo FM 105,9:

Mauricio Medeiros- Deputado Jorge Amanajás, nós temos lido e escutado na imprensa que a sua pré- candidatura ao governo do estado enfrenta dificuldades. A sua pré- candidatura já é dada como certa ou depende, ainda, de alguma articulação política?

Jorge Amanajás – Não depende de mais nada. A candidatura é certa e agora só depende, inicialmente, da vontade de Deus e posteriormente da vontade do povo. O Diretório Estadual já decidiu lançar candidatura própria e a Executiva Nacional já deu o aval. A partir desse aval, do partido, nós já estamos construindo as alianças. Já temos alianças com 11 partidos que, juntamente com o PSDB, nos dão as condições eleitorais para disputar as eleições. A partir daí, a construção da viabilidade de uma candidatura. Essa construção vem sendo feita a muitas mãos, com a participação de muitas pessoas, que sonham com um futuro melhor para o Amapá. Então, o PSDB já está decidido e neste sábado, 29, estaremos lançando a nossa pré-candidatura ao governo do estado com a participação não só dos partidos aliados, mas principalmente com algumas lideranças nacionais que vem ratificar essa candidatura própria, do PSDB, ao executivo estadual.

Carlos Carmezim – Deputado Jorge, Como se encontra a sua pré-candidatura com relação à preparação de um plano de governo? De enfrentamento das questões de saúde, educação, infra-estrutura, saneamento, agricultura e etc.?

Jorge Amanajás – Nós já estamos debatendo isso há quase um ano e meio, dentro do PSDB. O PSDB está organizado, não somente na questão estrutural, no espaço físico do partido, mas principalmente no seu trabalho de base, naquele trabalho que requer a participação da militância nos movimentos dentro do partido. Movimentos fortalecidos, como na área de educação, na área da saúde, no setor da juventude, no setor da maioridade, no setor de políticas para as mulheres, enfim, esses segmentos todos vêm ao longo de um ano e meio travando debates, discussões e nos últimos seis meses nós ampliamos o debate com os partidos aliados, os partidos que já estavam na base dessa aliança como o DEM, PPS, PSC, PT do B, PV, PHS, recentemente o PRTB, PRP, PRB, enfim, são 11 partidos em que ampliamos essa discussão e começamos, também, com o chamamento de alguns técnicos, de pessoas com conhecimento técnico e aprofundamento técnico para trabalhar essas questões que foram debatidas e a partir daí nós já consolidamos um primeiro formato do nosso plano de governo que, inclusive, a partir da semana que vem iniciaremos um ciclo de cinco debates que vão discutir os cinco eixos temáticos do nosso plano de governo. Claro que nós precisaríamos, aqui, de um longo tempo para explaná-lo, mas de antemão já digo que o nosso plano de governo tem uma prioridade que é resolver o problema da saúde do nosso estado, esse é o ponto de partida. Resolver o problema da saúde do estado requer, evidentemente, uma série de ações, passando pela questão da gestão, pela questão da tomada de decisão de fazer com que os recursos disponíveis para o orçamento da saúde, que chega perto de 13% do orçamento do estado, possam ser geridos de forma que o serviço chegue à ponta. O que é que o cidadão quer na saúde? Ele quer chegar e ter um hospital ou um posto de saúde equipado, ter médico, ter um bom atendimento e ter remédio. Se ele tiver isso, terá o básico, mas só se faz saúde de qualidade se nós tivermos a saúde preventiva, esse vai ser o grande fator que nós vamos lutar, no nosso plano de governo, a prevenção. Prevenir sai muito mais barato. Agora, claro, o tratamento curativo precisa ser feito de forma muito consistente, muito eficiente, mas o tratamento preventivo tem que vir na frente. A própria lei do SUS já prevê isso. A importância maior tem que ser a prevenção.

Hoje nós estamos numa crise financeira do estado, com uma dívida astronômica. O que é que precisa fazer para sair desse buraco? Primeiro precisa de um choque de gestão, esse choque de gestão precisa ser dado, precisamos ver quais são os ralos por onde os recursos estão escoando e sanar isso. Esse choque de gestão, na administração pública, já foi feito por grandes nomes do PSDB. Assim fez o Aécio Neves, em MG, assim fez o Geraldo Alckmin e agora o José Serra, em SP, assim fez Simão Jatene, no PA, o próprio Fernando Henrique, enfim, essa é uma máxima do PSDB, a seriedade com a coisa pública, com a gestão. A partir daí criar uma condição para o desenvolvimento em todos os setores.

Mauricio Medeiros – Com relação à segurança pública. Como o Senhor avalia e o que pensa, em termos de mudanças, com relação a esse setor, no nosso estado?

Jorge Amanajás – Segurança para nós é uma necessidade e ela precisa ser pensada de forma diferente de como é feito hoje. O que é que eu penso para a segurança, hoje? Claro, nós precisamos de polícia na rua, precisamos prender os bandidos que estão causando mal a sociedade, mas é bom que se diga, e eu tenho dado esse exemplo de forma muito clara. Quanto custa um detento, em média, para nós? Hum mil e setecentos reais, é o que custa um detento para nós, por mês, e nós estamos gastando isso para que? Para doutorá-lo mais, no banditismo. Porque se ele entra lá como um bandido, não muito experiente, ele sai de lá doutorado, com pós-graduação, em banditismo. Não tem recuperação nenhuma, são condições sub- humanas, aquilo ali é o inferno na terra. Esses detentos que estão lá, 90% são jovens de 18, 19, 20, 21 e 22 anos. Voltando 10 anos no tempo, esses detentos eram crianças de 8, 9, 10, 11 e 12 anos de idade. Essas crianças, com certeza, na sua maioria, não tiveram acesso a educação, não tiveram acesso a saúde, não tiveram uma estrutura familiar, não tiveram acesso a cultura, a lazer, ou seja, se nós tivéssemos gasto há 10 anos com educação, com cultura, com esporte, com lazer, com religião, com essas crianças, pelo menos 10% do que gastamos hoje com eles lá, ou seja, cento e setenta reais, com certeza a grande maioria deles não estariam lá no IAPEN em conseqüência de males que causaram a nossa sociedade. Então, segurança tem que ser pensada a médio e longo prazo, ela sai mais barata se pensarmos assim. O nosso problema é que nós somos muito imediatistas, e é por isso que nós temos uma proposta de criar uma revolução na educação do nosso estado. Nós não estamos inventando nada, isso já foi feito por Leonel Brizola, no RS e no RJ, os grandes educadores da nossa história defendem isso e eu não poderia fazer diferente. Eu quero fazer uma revolução na educação do nosso estado e essa revolução tem que atingir aqueles que mais precisam ser atendidos. Então, eu quero começar o nosso processo educacional com as nossas escolas de ensino integral, de ensino compartilhado, onde nós vamos ter não só o aluno em sala de aula, mas nós vamos ter o aluno com assistência médica, com assistência odontológica, com lazer, com esporte, com assistência espiritual, porque tem coisas que só Deus pode transformar o ser humano. Nós não podemos abrir mão disso. E eu quero construir esses grandes centros, na periferia, no meio dos mais necessitados, no meio das favelas, no meio das baixadas. É lá que eu quero as grandes estruturas para fazer a educação de qualidade, porque eu quero essas crianças com uma probabilidade de serem cidadãos honrados e decentes, diferente dos jovens que hoje se encontram no IAPEN. O Amapá precisa se desenvolver. E a minha bandeira é a bandeira do desenvolvimento.

Foto: Jaiana Giarola

Dep. Jorge, Carmezim e Mauricio.

Ouvinte (Julio Cezar) – Deputado Jorge Amanajás, o senhor falou de desenvolvimento e por essa razão eu lhe pergunto: O que falta para o Amapá se desenvolver no setor primário? E nesta quinta-feira entra em vigor a Lei Capiberibe. A Assembléia Legislativa está preparada para cumprir essa Lei?

Jorge Amanajás – Vou começar respondendo pela última pergunta. A Assembléia Legislativa a partir desta quinta-feira começa a colocar todas as receitas e despesas na internet, eu já vinha publicando isso. A própria Lei de Responsabilidade nos exigia, mas agora o acesso fica mais fácil pela internet e o cidadão não vai ter que ficar andando atrás de Diário Oficial para saber como estão as contas. Estamos prontos para cumprir, a risca, a Lei de Transparência. Com relação ao que eu penso sobre como desenvolver o setor primário. Primeiro, começando pela agricultura, nós temos, aproximadamente, doze mil famílias assentadas no estado. Infelizmente, esses assentamentos, foram todos feitos de forma equivocada, sem levar em consideração a nossa realidade. Estamos na Amazônia, estamos numa área de florestas, numa área de acesso difícil, estamos numa área em que, nós, somos diferentes do resto do Brasil e isso não foi levado em consideração quando fizeram esses assentamentos. Hoje, dessas doze mil famílias que foram assentadas, talvez só tenham permanecido, sete ou oito mil famílias que ainda continuam insistindo, apesar de todas as dificuldades. Precisamos resolver o problema dessas famílias assentadas e para resolvermos essa situação precisamos fazer parcerias, com o setor privado, no sentido de programarmos a agricultura de média e de larga escala. Temos exemplos disso, no nosso estado vizinho, no Pará. O que nós não podemos aceitar é que tenhamos quase quatrocentos mil hectares do melhor cerrado do Brasil, ocupado por uma única empresa que planta eucalipto e que a única agregação de valor que se tem é esse eucalipto ser moído em Santana, gerando apenas 500 empregos. E eles moem porque não cabe no navio em toras senão eles mandavam em toras. O certo é que esse nosso cerrado tem que ser usado para gerar empregos, para gerar riquezas, para nossa população. Para resolver o problema nós precisamos do Governo Federal, do Governo Estadual e principalmente da iniciativa privada. Nós podemos produzir o que quisermos no estado do Amapá, mas com uma responsabilidade maior, que é a questão ambiental. Não podemos abrir mão da responsabilidade ambiental. Eu sou totalmente contra a agricultura na floresta. Temos que usar 65% do nosso cerrado para produzirmos alimentos.

Mauricio Medeiros – O senhor falou em responsabilidade ambiental e eu tenho acompanhado alguns debates, em que o senhor participou, sobre meio ambiente e Amazônia. Como o senhor vê, hoje, essa realidade?

Jorge Amanajás – Nós somos reféns da opinião pública internacional, em relação às questões ambientais da Amazônia. Refém por quê? Estamos aqui na maior floresta tropical do mundo, estamos aqui com um potencial madeireiro quase que inesgotável, estamos aqui com um potencial hídrico e pesqueiro quase que inesgotável, estamos aqui com um potencial agrícola gigantesco e temos um povo vivendo quase na miséria. Não dá para aceitar isso. A legislação é muito cruel com relação a isso. Ela não diferencia o pequeno do grande, o rico do pobre. A legislação é uma só, mas nós temos que pensar que na Amazônia nós temos vinte e cinco milhões de brasileiros que precisam de casa, de escola, de hospital, de segurança, enfim, precisa do mínimo para serem considerados cidadãos. Por isso eu tenho andado pelo Brasil inteiro debatendo essa questão para mostrar o que é a Amazônia. Porque o resto do Brasil e do mundo, pensam que a Amazônia é formada só por rios e florestas. São imensos rios e infinitas florestas cheias de cobras, jacarés, tatus e etc. Esquecem que aqui tem vinte e cinco milhões de habitantes. Nós somos diferentes e precisamos ser tratados de forma diferente, porque nós prestamos um serviço para toda humanidade. Quando preservamos as nossas florestas estamos garantindo a chuva do centro-oeste do Brasil para produzir a soja, o milho e o arroz do centro-oeste. É mantendo as nossas florestas em pé que garantimos a chuva que cai nos laranjais da Califórnia, nos EUA. E quem nos paga por isso? Ninguém. Nós, sozinhos, estamos pagando esse preço. E tem alternativas para isso? Claro que tem. Nós não precisamos que ninguém nos mande dinheiro para fazer isso, até porque ninguém vai mandar. Nós queremos que tenhamos as condições necessárias para nos desenvolvermos. Podemos retirar a madeira de forma racional, o manejo florestal já se faz no mundo inteiro. E essa madeira tem que ser a matéria prima que vai gerar empregos aqui na nossa região. Estamos mandando essa madeira em toras para gerar emprego em outras regiões. Precisamos ter energia, pois nem isso tem. Vivemos numa região que é a maior produtora de energia limpa do mundo, através das nossas hidrelétricas. Não sei se vocês sabem, mas 70% da energia consumida no nosso estado são de termoelétricas, é queima de óleo diesel, é um milhão de litros por dia. Estamos produzindo energia suja e de péssima qualidade.

Mauricio Medeiros – O senhor é professor, por formação, e sempre atuou na área educacional. Como o senhor vê esse desvio de R$ 200 milhões da educação, que foi denunciado pelo deputado Moisés Souza e posteriormente confirmado pelo MPE?

Jorge Amanajás – Primeiro, dizer que eu me sinto realizado pela denuncia ter surgido dentro da Assembléia, isso mostra que a Assembléia assume a sua responsabilidade de fazer a denuncia quando deve ser feita. A Assembléia tem suas limitações constitucionais. Fizemos a denúncia, através do deputado Moisés Souza, que foi encaminhada ao Ministério Público e esse tipo de processo é muito demorado, chega a levar anos, basta agente lembrar-se daquelas operações como a operação “pororoca”, que agora é que se começa a ter algumas decisões, como a operação do “Mensalão”, de quatro ou cinco anos atrás, do Congresso Nacional, que eu acho que não foi julgado ninguém. Então, para agente ver que a nossa legislação, ela não dar condições de celeridade a avaliação disso. Agora, como professor eu me sinto profundamente triste e revoltado com uma situação dessas. Mesmo reconhecendo que a nossa educação avançou em alguns setores. Avançou na questão da infra-estrutura, isso é inegável, avançou com a nossa Universidade Estadual, isso também é inegável, mas ainda estamos longe da qualidade que nós temos a obrigação e o dever de garantir, na educação, para os nossos filhos, principalmente aqueles que mais precisam que são aqueles que não têm condições de pagar uma escola ou uma universidade particular. Eu, como professor, como educador, como militante da sala de aula, tenho isso como missão e foi Deus que me deu essa missão que irei exercer até o último dia da minha vida. O meu compromisso e a minha responsabilidade com a educação é ilimitado. Educação para mim é prioridade sempre, porque ela é a base que vai nos garantir uma segurança de qualidade, uma saúde de qualidade, vai nos garantir o desenvolvimento, enfim, ela é a base de tudo.

Foto:Jaiana Giarola

Dep. Jorge Amanajás visita biblioteca da Rádio Comunitária Novo Tempo.

Mauricio Medeiros – O estado do Amapá, segundo a FGV (Fundação Getúlio Vargas), tem um déficit habitacional de 31 mil casas. Como o senhor, se for eleito, pretende resolver essa situação?

Jorge Amanajás – Gostaria de fazer algumas correções. A FGV está sendo muito benevolente, porque ela só está considerando os que não têm casa e nós temos que considerar aqueles que moram em condições sub-humanas também. Se você pegar Santana vai constatar que metade da sua população mora em condições sub-humanas, em cima de palafitas, nas baixadas e aqui em Macapá não é diferente, Laranjal do Jari não é diferente, Oiapoque não é diferente, as nossas cidades estão assim e eu fico imaginando por que essa população tem que se submeter a morar nessas áreas inóspitas, inadequadas para o ser humano? Porque não foi dada alternativa para ela. Porque área tem, eu já fiz um levantamento entre Macapá e Santana, nós podemos criar cinco novos bairros. Esse projeto eu já tenho, nós estamos trabalhando, inclusive, com a ajuda do Presidente Sarney, eu já estive lá com ele e pedi a ajuda dele para que nós pudéssemos trazer um grande arquiteto, que tem experiência inclusive, que é o Jaime Lerner, lá do Paraná, que planejou Curitiba. Para que nós possamos ter o que eu chamo aqui de eco-bairro. Esses eco-bairros em que nós possamos integrar a questão ambiental. É uma área belíssima entre Macapá e Santana, com ressacas, com matas ciliares e áreas próprias para fazer habitação, são as áreas de cerrado que tem entre essas duas cidades. Nós podemos fazer esses cinco novos bairros, com terreno, com água, com energia, com praças, com posto de saúde, com escola, com transporte. Sem isso não adianta colocar, não adianta marcar uma área aqui e jogar o povo lá para fazer barraco, não resolve, piora ainda mais a situação. Essa questão habitacional tem que ser resolvida criando uma expansão planejada das nossas cidades, principalmente, de Macapá e Santana.

Carlos Carmezim – Deputado, o senhor ganhando as eleições vai administrar um estado totalmente falido, um caos. O senhor se sente preparado para essa missão?

Jorge Amanajás – Carmezim, eu sou filho de caboclo, meu pai é dali das ilhas Cavianas do Marajó e minha mãe é das ilhas do Bailique, eu já vim nascer em Macapá, ali na Praça da Conceição. E o caboclo tem uma característica muito forte, ele não tem medo das coisas, ele encara as dificuldades, até porque se não for assim ele não sobrevive. E eu herdei essas características dos meus pais. É por isso que eu quero participar dessas eleições, como candidato a governador, para encarar, esse desafio, e mostrar que nós podemos sim fazer as transformações e as revoluções necessárias. Eu não aceito de forma nenhuma, como alguém que nasceu aqui nesta terra, de ver uma terra tão rica, com tantos problemas, com tantas dificuldades e com o seu povo sofrendo tanto. Eu não aceito isso e é por não aceitar, essa situação, que eu não tenho medo e vou para luta. É dessa forma que eu encaro esse desafio.

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