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11 dezembro 2009

Mordaça I

'Isso nos faz voltar ao passado colonial'

O ministro Celso de Mello fez ontem uma longa e calorosa defesa da liberdade de imprensa. Sem citar casos específicos, ele criticou juízes que concedem liminares como a do TJ-DF, que censurou previamente o jornal "O Estado de S. Paulo". E lembrou arbitrariedades da ditadura militar com tal veemência que ministros que votaram contra o pedido do "Estado" - como Eros Grau e José Antônio Dias Toffoli - pediram a palavra para esclarecer que o faziam por mera questão técnica (Toffoli) ou para relembrar seu passado de luta contra a ditadura e a censura (Eros).

- Tem sido tão abusivo o comportamento de alguns magistrados e tribunais que, hoje, o poder geral de cautela é o novo nome da censura judicial no nosso país. E isso é muito grave, porque nos faz voltar ao passado colonial - disse Celso de Mello. - É grave e preocupante que ainda remanesçam no aparelho de Estado determinadas visões autoritárias que buscam justificar, por meio do poder geral de cautela, a prática de censura de livros, revistas, jornais.

Ele lamentou que o Supremo não tenha acolhido o pedido de liminar do "Estado" para sinalizar à sociedade a posição do tribunal em ações futuras: - O julgamento tem efeito vinculante. Este julgamento permitiria reconhecer que esta Corte não admite qualquer forma de censura.

Celso de Mello disse que o AI-5, ato institucional do governo militar que escancarou a ditadura, no governo Costa e Silva, está prestes a completar 41 anos. Ele lembrou que, naquela época, morava no interior paulista e que sua família, assinante do "Estado", leu à época o editorial "Instituições em frangalhos".

- Meu pai foi um dos poucos que receberam o jornal, porque a edição foi apreendida pelos militares na Rua Major Quedinho. E concluiu: - Não podemos retroceder nesse processo de conquista das liberdades democráticas. (O GLOBO)

Publicado ou Escrito por Chico Bruno

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